RAV 4 4X2 para entrar na briga

Teste: RAV 4 4X2 para entrar na briga  
Toyota aposta em versão barata para ganhar espaço entre utilitários esportivos médios

    Até o ano passado, a Toyota tinha poucas ambições com o RAV4. O SUV fechou 2010 com apenas 2 mil carros vendidos, contra quase 19 mil do rival Honda CR-V. Mas, vendo o segmento esquentar com a chegada de novos concorrentes, a marca japonesa decidiu trazer o seu utilitário esportivo de volta para a briga. Começou a importar do Japão uma versão somente com tração dianteira por R$ 92,5 mil. Este modelo, uma espécie de RAV2, fica bem mais em conta que a tradicional configuração 4X4, que parte de “salgados” R$ 107 mil.


    Com essa mudança de estratégia, a expectativa da Toyota era triplicar as vendas do modelo e passar das quase 200 unidades mensais para cerca de 600. A variante 4X2 seria responsável por 75% do novo share. Passados dois meses, a fabricante nipônica melhorou seus números, mas não atingiu plenamente o objetivo. Em dezembro, foram 441 RAV4 vendidas e 300 em janeiro. Pelo menos na proporção de vendas entre as versões as previsões da Toyota quase se realizaram. No primeiro mês de 2011, por exemplo, foram 215 RAV4 4X2, exatos 71%.

    A movimentação da Toyota se explica. Além do CR-V liderar o segmento com uma larga folga, a Hyundai acumula ótimas vendas com o Tucson nacional e começa a emplacar bem com o recém-chegado ix35 importado da Coreia do Sul. A Kia também promete um bom desempenho com a nova geração do sul-coreano Sportage, que chega com design arrojado frente aos concorrentes. Já a Chevrolet atualizou a Captiva Ecotec para 2011 com o motor 2.4 retrabalhado agora gerar 185 cv. Mesmo com a diminuição de mais de R$ 14 mil no preço, o RAV4 é mais caro que grande parte de seus concorrentes. Vale lembrar que os SUVs médios da Honda e da Chevrolet são importados do México e por isso não recolhem o imposto de importação de 35% aplicado aos outros veículos. Eles são comercializados por R$ 88.410 e R$ 90.299. O Kia Sportage sai por R$ 87.900 enquanto o que chega mais perto é o ix35 com câmbio manual, com preço inicial de R$ 88 mil. Pelo menos na tabela.



    Pelo menos no desenho, o RAV4 fica distante de seus rivais. O visual é o mesmo desde 2006, quando foi lançada a atual geração do modelo. A dianteira conta com faróis retos que invadem a lateral do veículo, enquanto que a grade não traz grandes ousadias, mantendo uma tradicional forma trapezoidal. A lateral também não inova. O solitário destaque são os para-lamas traseiros mais pronunciados, dando a impressão de que o carro é maior do que realmente é. Na traseira, mais uma prova do projeto mais antigo do Toyota. O estepe na tampa traseira é uma solução abandonada pela quase totalidade dos SUVs e crossovers vendidos no exterior, principalmente por questões de segurança. Além dele, chamam a atenção as lanternas estilo “tuning”, que “escapam” para os lados do automóvel.

    Com cinco anos de estrada, o desenho da RAV4 já gerou até “seguidor”. É o chinês Chery Tiggo, que chegou ao Brasil em 2008 com um desenho muito semelhante ao do modelo japonês. Mas, apesar do design já ser datado e imitado, o conjunto mecânico faz jus à boa fama da Toyota. O motor 2.4 de quatro cilindros conta com comando variável nas válvulas e comando duplo no cabeçote. O resultado disso são 170 cv de potência entregues a 6 mil rpm e torque de 22,8 kgfm a 4 mil giros. A transmissão automática fica um pouco atrás por ter apenas quatro velocidades e não oferecer opções de trocas manuais.

    Para fazer o RAV4 chegar ao valor de R$ 92,5 mil, a fabricante nipônica precisou abrir mão de alguns recursos. A tração 4X4 foi descartada. Junto com ela, itens como bancos dianteiros com ajuste elétrico e aquecimento, revestimento em couro, airbags laterais e de cortina e o teto solar saíram da lista de equipamentos. Mesmo assim, o modelo fica longe de ser “pelado”. Ele já vem de fábrica com ar-condicionado dual zone, direção elétrica, airbags dianteiros, ABS, rádio com CD/MP3/USB/entrada auxiliar e controle no volante, controle de cruzeiro e rodas de liga leve de 17 polegadas.



Instantâneas

# O RAV4 está na terceira geração. A primeira é de 1994, a segunda de 2000 e a atual de 2006.
# O primeiro RAV começou a ser vendido no Brasil em 1999 e logo no ano seguinte foi substituído pela segunda geração.
# A sigla RAV4 significa “Recreational Active Vehicle with 4-wheel drive”, algo como Veículo para Recreação Ativa com tração nas quatro rodas.
# Na Europa, a Toyota vende uma versão do modelo reestilizada, sem o estepe pendurado na tampa traseira.
# O RAV é vendido no Brasil com três anos de garantia.

Ponto a ponto


Desempenho – Quando se acelera o RAV4 é fácil esquecer que se está a bordo de um utilitário esportivo com mais de 1.500 kg. O excelente motor 2.4 com comando de válvulas variável move o modelo com agilidade suficiente para instigar o motorista a pisar ainda mais fundo. E cria uma excelente relação peso/potência de 8,82 kg/cv. Este comportamento poderia ser ainda melhor se a marca japonesa tivesse usado um câmbio com mais recursos no RAV4. Mesmo que as quatro marchas da transmissão automática sejam, de força – o que mantém o modelo "aceso" o tempo todo – uma transmissão mais moderna, de seis marchas com modo sequencial, tornaria a direção do modelo ainda mais prazerosa. Mas do jeito que é, o RAV impressiona pela agilidade. Nota 9.

Estabilidade – Para um SUV, o RAV4 tem um comportamento exemplar em curvas. Apesar da altura elevada, a carroceria do Toyota faz pouca menção de rolar, mesmo em velocidades elevadas. Em retas, a comunicação de rodas com o volante é precisa e as frenagens também não oferecem problemas. Pela sua característica de ser um utilitário com vocação urbana desde a sua concepção, a tração 4X4 acaba se refletindo apenas numa pequena perda de estabilidade. Nota 8.

Interatividade –
Aqui, o Toyota se mostra um veículo pouco refinado para os mais de R$ 90 mil que custa. Faltam itens como sensor de estacionamento – essencial em carros com estepe pendurado na traseira –e travamento automático das portas. A regulagem de altura do volante também não é boa: só varia de uma posição baixa, para outra mais baixa ainda. Os comandos dos retrovisores elétricos são mal posicionados, atrás da alavanca do freio de mão. Ao menos a visibilidade é boa e a direção é suave e precisa. Nota 6.

Consumo – O Toyota RAV4 4X2 conseguiu a boa média de 10,1 km/l de gasolina em um percurso 2/3 urbano e 1/3 rodoviário. Nota 8.

Conforto – O espaço é farto para todos os ocupantes da RAV4, graças à boa altura do modelo, com 1,72 metro, e à distância entre-eixos de 2,66 metros. Os assentos traseiros ainda contam com ajuste longitudinal, permitindo ampliar ainda mais a área livre para as pernas. Os bancos são macios e confortáveis e a suspensão é bem calibrada e consegue filtrar razoavelmente bem as inúmeras imperfeições das estradas brasileiras. Nota 8.

Tecnologia – A plataforma do RAV4 – a mesma desde 2006, relativamente recente – e o motor moderno – que conta com comando variável de válvulas – contam pontos a favor do SUV da Toyota. Também estão lá airbags frontais e ABS nos freios. O que desafina o conjunto tecnológico é a econômica transmissão automática de apenas quatro marchas – que, pelo menos, tem quatro marchas de verdade, sem overdrive. A lista de equipamentos também deixa de fora itens normais para um modelo de mais de R$ 90 mil. Nota 7.

Habitabilidade – O grande espaço interno contribui para que o bom desempenho do RAV4 nesse quesito. A Toyota aproveitou a área livre para encher o utilitário de porta-objetos e compartimentos. Além disso, o porta-malas é um dos maiores da categoria e leva 540 litros de bagagem. Nota 9.

Acabamento – Mesmo com o preço inicial de R$ 92,5 mil, a Toyota resolveu usar materiais de qualidade questionável no interior. Os plásticos são rígidos e tem aspecto muito simplório. O SUV na versão 4X2 também não tem nem como opcional a “chance” de ter os bancos revestidos de couro. Outro pecado para um veículo nesta faixa de preço. Nota 5.

Design – Além de ser um carro com visual pouco ousado desde o seu lançamento, a Toyota “deu azar” com as linhas do RAV4. Isso porque depois da chegada do Chery Tiggo em 2008, o desenho dos dois passou a ser confundido nas ruas pela clara inspiração do chinês no japonês. O SUV nipônico ainda recebeu concorrentes com desenhos mais modernos nos últimos tempos, o que deixou o RAV ainda mais datado. Nota 6.

Custo/Benefício – A introdução do modelo com tração dianteira na linha da RAV4 foi a tentativa da Toyota de deixar o seu utilitário mais “popular”. Só faltou acertar o preço. O RAV4 4X2 chega por R$ 92,5 mil, valor que supera o de concorrentes mais modernos como Chevrolet Captiva, Kia Sportage, Honda CR-V e Hyundai ix35. Nota 5.

Total – O Toyota somou 70 pontos em 100 possíveis.





Primeiras Impressões


Qualidades ocultas


    Quando se entra no “RAV2” – o RAV4 com tração 4X2 –, o espaço interno impressiona. Com a boa distância entre-eixos de 2,66 metros e a altura de 1,72 m do SUV médio da Toyota deixa qualquer um de seus quatro ocupantes regulamentares confortável – o quinto passageiro já aperta todos no banco traseiro. A marca japonesa também aproveitou para encher a área vazia com porta-trecos. Os maiores e mais práticos são os que ficam entre os bancos, no descansa-braço, e no porta-luvas duplo. Apesar disso, o acabamento deixa a desejar. Exceto pelos encaixes precisos, parece que a Toyota não fez muita questão de adicionar requinte mesmo para um carro que ultrapassa os R$ 90 mil.

    Mas mesmo com tanto espaço interno, quando se vira a chave, é fácil se esquecer o RAV é um utilitário médio. Isso porque o motor 2.4 com comando variável de válvulas de 170 cv e 22,8 kgfm de torque não só dá conta do recado, mas também incita o motorista a dirigir com uma tocada mais esportiva. Sensação que o câmbio automático de quatro marchas e sem opção de troca manual tende a reduzir, mas que não chega a apagar.

    A suspensão – independente em ambos o eixos – também exerce papel importante na dinâmica do RAV4. Ela deixa o utilitário bem postado e sempre na mão, mesmo para um carro alto. Nem a ausência da tração integral, que deixaria o carro mais “colado” no chão, compromete a estabilidade. Na cidade, com uma direção mais tranquila, ela também se mostra competente ao filtrar as imperfeições do piso. Ainda em uso urbano, a tração nas quatro rodas não faz falta. Já o uso fora-de-estrada fica comprometido e o único “ás na manga” é a boa altura livre do solo. Outro ponto a favor do Toyota é o bom isolamento acústico, que deixa quase todos os barulhos do lado de fora do veículo.